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Uma eterna estudante...

domingo, abril 29, 2007

Gerações de EaD

Autores: Ana Neves e Silvestre Torre

quarta-feira, abril 25, 2007

Novos desafios para a pedagogia

A imersão da Sociedade em Rede tem levantado, como vimos, novas questões relacionadas com a abordagem pedagógica aos alunos, aos programas, às escolas e mesmo aos objectivos políticos da educação. Roni Aviram (cit in Graells, 2006) identifica três possíveis reacções para que o sistema educativo se adapte à nova realidade:

a) cenário tecnocrata – as escolas fazem pequenos ajustes de adaptação, introduzindo a alfabetização digital nos currículos, cujo objectivo é aprender sobre as TIC e com as TIC;

b) cenário reformista (três níveis de integração) – aprender sobre as TIC e com as TIC, introduzindo nas práticas docentes novos métodos de ensino/aprendizagem com base num modelo de aprendizagem construtivista que contemple o uso das TIC como instrumento cognitivo e realização de actividades interdisciplinares e colaborativas;

c) cenário holístico: reestruturação de todos os elementos que compõem a teoria e prática pedagógica com base nas novas necessidades económicas, sociais e culturais.

De entre os novos desafios que se colocam à educação poderemos ainda considerar diferentes vertentes sobre as quais deveremos estar atentos e às quais deveremos responder
[1]:

a) uma vertente ética e relacional, na qual se integram as questões referentes aos direitos de autor e de protecção da propriedade intelectual, dado a aparente (ou efectiva?) falta de controlo sobre os downloads ilegais e a apropriação indevida de conteúdos;

b) uma vertente metodológica, que implica que se deixe de ensinar os nativos digitais com velhos métodos;

c) uma vertente comunicacional, que respeita não apenas ao surgimento de uma nova linguagem mas também à possibilidade de uso de novos meios tecnológicos como mediadores da comunicação educacional;

d) uma vertente de equidade já que é importante não esquecer que o acesso às tecnologias não é tão democrático quanto à priori se possa pensar e está condicionado por factores de maior ou menor capacidade económica das famílias, que na pior das hipóteses pode conduzir a um novo nível de exclusão: a exclusão digital e a info-exclusão;

e) uma vertente institucional que provavelmente terá de repensar as estruturas escolares com espaços e tempos bem definidos e rígidos, para um outro tipo de organização mais representativo da sociedade actual ao invés de continuar a manter o modelo industrial;

f) uma vertente sistémica, que deverá equacionar a possibilidade de uma maior autonomia das escolas e dos professores face à tutela, uma vez que é necessário considerar que cada escola está inserida no seu próprio contexto geográfico, económico e social e que um programa e estratégias que servem a uma escola no centro de Lisboa pode não ser minimamente adaptado a uma escola da Damaia ou de uma aldeia do Alentejo profundo e por fim g) numa vertente ontológica, sob a qual é urgente ultrapassar a tecnofobia de alguns elementos da classe docente que vêem nas tecnologias e na Internet uma ameaça às suas funções.


Assim, as TIC devem ser encaradas como aliadas da educação, dos professores e dos métodos utilizados como mais uma estratégia de chegar mais perto dos alunos e fazer cumprir os objectivos de aprendizagem e não como ameaças à função docente.

(...)


[1] Adaptado das conclusões retiradas do último debate de ESR, no wiki “Novos Desafios Educativos”.

Trabalho em Grupo - d'Italia per Portogallo


O Professor do Século XXI

Por vezes os professores parecem não reconhecer as novas (e excepcionais) competências dos seus alunos e escolhem ensinar da forma como eles próprios aprenderam: devagar e gradualmente (num tempo específico dedicado para cada matéria e/ou disciplina), uma coisa de cada vez, ensinando a todos como se fossem um só (Canário, 2001), privilegiando o trabalho individual de cada aluno e recorrendo a métodos tradicionais sérios (por vezes, demasiado).

Os imigrantes digitais não acreditam que os seus alunos possam aprender vendo televisão ou através de um jogo e consideram que a aprendizagem dificilmente poderá ser divertida, afinal eles não passaram os anos de infância a ver a Rua Sésamo (Prensky, 2001). Então, o que se espera dos professores/educadores do século XXI?

Espera-se que não temam a inovação, que façam um diagnóstico às necessidades individuais dos seus alunos e que personalizem o ensino/aprendizagem; que procurem e preparem materiais utilizando todas as linguagens disponíveis; que motivem o aluno; que centrem a sua docência no estudante considerando e tomando partido das diversidades existentes; que ofereçam tutoria e que a sua prática se distinga pelo exemplo.

(...)

Tendo em consideração que são as tecnologias de informação e comunicação que estão no centro da actual Sociedade em Rede e considerando as novas competências dos alunos que referimos anteriormente, é importante que os professores estejam capacitados para trabalhar com as TIC como um instrumento facilitador dos processos de aprendizagem (como fonte de informação, como canais de comunicação entre professores e estudantes ou como recursos didácticos), como ferramenta para o processo de informação e como conteúdo implícito de aprendizagens (Graells, 2005).

Ao adaptar-se o uso das TIC à situação de ensino-aprendizagem estamos a contribuir para a formação de uma estrutura mental de aquisição e construção de conhecimento mais complexa, rica e definida. Os alunos, por sua vez, ao utilizar as TIC aprendem sobre elas e aumentam as suas competências digitais.

(...)

Os Alunos: Nativos Digitais

A propósito do debate sobre o declínio sucessivo da educação nas últimas duas décadas, Prensky (2001) chama a atenção para um fenómeno que os professores, educadores e sociedade em geral não podem esquecer. É que os alunos “mudaram radicalmente”. O perfil dos estudantes de hoje não encaixa no modelo de ensino que o sistema educacional ocidental delineou há mais de cinco décadas atrás.

Ao contrário das gerações anteriores, os jovens de hoje não mudaram simplesmente de roupa, de adornos ou de estilos musicais. Qualquer jovem nascido num país desenvolvido depois de 1982 é um nativo digital. Estes jovens nunca conheceram o mundo sem Internet, sem satélites, sem telemóveis, sem jogos de vídeo e sem computadores. Espaço e tempo têm para estes jovens uma dimensão totalmente diferente dos adultos nascidos anteriormente. Eles não enviam cartas nem trocam postais de cartão aos amigos distantes, enviam um e-mail ou um postal virtual; não lêem jornais, sabem das notícias pela televisão, pelo telemóvel ou pelos portais na net; eles não se apresentam a novos amigos espontaneamente, conhecem novas pessoas nos sites de amizade e namoro; eles não vão a bibliotecas, fazem pesquisas na rede; já não pedem aos pais para brincar na rua e passam horas divertindo-se em frente a um computador ou a uma consola de jogos. Hoje em dia os jovens em idade escolar “passam menos de 5 mil horas das suas vidas a ler, mas mais de 10 mil com jogos de computador (já para não mencionar 20 mil horas a ver televisão). Os jogos de computador, o e-mail, a Internet, os telemóveis e os mensageiros instantâneos são parte integral das suas vidas” (Prensky, 2001).

(...)

Do outro lado desta realidade estão as gerações anteriores aos anos 80 que não nascendo na era digital foram por ela conquistados por curiosidade ou por necessidade de sobrevivência nas novas linhas com que se cose o actual mercado de emprego; a esses Prensky categoriza de imigrantes digitais. O imigrante digital é como qualquer outro imigrante… melhor ou menos bem, adapta-se a um novo ambiente mas preserva as suas raízes, por exemplo, tende a ler os seus e-mails ou documentos digitais unicamente depois de imprimidos, telefona a um colega de trabalho a perguntar-lhe se recebeu o seu e-mail, chama alguém perto de si para ver um site interessante que encontrou em vez de enviar o URL por e-mail.

(...)

Os novos alunos por seu turno estão habituados a receber informação rapidamente e a desenvolver processos e tarefas paralelas. Preferem ver gráficos antes dos textos que os acompanham e informação que surja ao acaso como o hipertexto, por exemplo. Trabalham melhor em rede/grupo; esperam gratificações instantâneas e recompensas frequentes. Preferem jogos a trabalho “sério” (Prensky, 2001). Estão os professores e as escolas preparados para estas novas aptidões? Que perfil e métodos se esperam que os professores do século XXI possam aplicar?

Funções da Educação e sua adaptabilidade à Sociedade em Rede e do Conhecimento

A escola não existiu sempre, é uma construção social que se naturalizou (Canário, 2001) ao ponto de podermos pensar que nunca existiu sociedade humana sem escola. Assim, a Educação Escolar é afinal a estrutura que permite formar sujeitos capazes de darem resposta às necessidades e exigências de cada sociedade. À medida que a sociedade se transforma a educação acompanha-a nestes passos. Certamente a primeira alteração verificar-se-á nos movimentos sociais e políticos da sociedade que a partir daí se espelham na escola.

O modo como a educação auxilia o funcionamento do sistema social é o que denominamos por Funções Sociais da Educação. Assim, na Idade Média, a escola tinha essencialmente uma função religiosa. A própria prática educativa estava centralizada nos conventos e igrejas, em que o estudo do Latim era uma ferramenta essencial para a aprendizagem das escrituras e consequente multiplicação da palavra de Deus. Outras sociedades existiram para além das ocidentais em que uma função militar servia igualmente os interesses dos Estados, para a defesa dos seus impérios e fronteiras.

Actualmente, podemos considerar cinco funções sociais da educação (Musgrave, 1984) que apresentamos seguidamente:

a) Função Política: formação de chefes políticos a todos os níveis da sociedade democrática e manutenção do sistema político vigente.

b) Função de Selecção Social: os mais aptos são eleitos de entre a população no seu todo, tendo o sistema educativo grande influência nessa escolha.

c) Função Económica: é uma das mais importantes funções da escola, uma vez que tem por objectivo fornecer à sociedade o número de anos mínimo e a qualidade de educação adequada às circunstâncias e necessidades técnicas do momento. A escola presta um serviço à economia na medida em que se ensinam aptidões técnicas e cognitivas, inculcam-se traços de personalidade apropriados e encoraja-se a aceitação de desigualdades. No fundo, o modelo escolar tem inerente a reprodução das hierarquias da divisão do trabalho dominantes nos locais de trabalho.

d) Função de Fornecimento de Inovadores: cujo objectivo é proporcionar as mudanças necessárias à sobrevivência da sociedade sob os condicionalismos modernos, inserindo-se aqui as grandes áreas da investigação e desenvolvimento (I&D).

e) Função Cultural: consiste na transmissão dos esquemas fundamentais da sociedade, tais como a língua, a história ou a geografia.

Existirá uma disfunção, sempre que a educação não está organizada de modo a atingir os objectivos que lhe estão atribuídos, apesar desta disfunção poder ser mais ou menos evidente, mais ou menos latente.

Conceito de Sociedade em Rede

A sociedade em que vivemos actualmente surge após a Sociedade Industrial e a passagem de um modelo económico capitalista para um modelo económico neoliberal. É caracterizada por contínuos avanços científicos (nas áreas da bioengenharia, novos materiais e microelectrónica) e por uma tendência para a globalização económica e cultural (mercados financeiros laborando 24 horas por dia e de âmbito mundial, apogeu tecnológico e convergência digital de informação).

Vários atributos se misturam na caracterização da Sociedade em Rede… Há ainda quem lhe chame Sociedade de Informação e quem rebata esta expressão por Sociedade do Conhecimento, enfatizando a importância da elaboração de conhecimento funcional e colaborativo a partir da informação disponível. Outros apelidam a presente sociedade de Sociedade da Aprendizagem, fazendo uma alusão ao processo de formação contínua e ao longo da vida que se exige dos trabalhadores do século XXI; outros ainda dão-lhe o nome de Sociedade da Inteligência, potenciada através das redes de inteligência distribuída (de informação, de mercados, de empresas, de organizações, da sociedade civil,…).

(...)

A revolução tecnológica à qual associamos igualmente o aparecimento da World Wide Web (WWW), responsável em grande parte pelo que hoje chamamos de sociedade em rede, gera laços de interligação e interdependência nas mais diversas actividades humanas, do mundo do trabalho à economia, passando pela política e até pelos afectos. Esta rede, tem sido responsável por uma profunda alteração da organização social e levanta-nos muitas questões no que respeita àquele que será o seu ponto de chegada, pautando-se a sociedade actual por um processo contínuo de construção/reconstrução. Na opinião de Manuel Castells
[1] esta sociedade em vivemos “não é uma sociedade composta por cibernautas solitários e robôs em comunicação (…) nem sequer é a terra prometida das novas tecnologias que resolvem os problemas do mundo com a sua magia (…)”; “a sociedade em rede é uma estrutura social dominante do planeta, a que vai absorvendo a pouco e pouco as outras formas de ser e de existir. E as suas consequências, como no caso de outras sociedades que existiram historicamente, dependem do que as pessoas fazem, incluindo nós, nessa sociedade e com os instrumentos que essa sociedade oferece”.

A sociedade em rede desenvolveu-se a partir de um novo sistema tecnológico baseado nos desenvolvimentos da informática e dos sistemas de comunicação e informação em que as oportunidades oferecidas pelo surgimento da Internet desempenham um papel fundamental. Seria legítimo colocarmos a questão se foi o desenvolvimento tecnológico que determinou o surgimento desta nova sociedade ou a sociedade que determinou o desenvolvimento tecnológico.

Segundo Castells
[2], “não foi a tecnologia que determinou o nascimento e o desenvolvimento da sociedade em rede, mas sem este tipo de tecnologias aquela não teria existido”.
Admitindo que o sistema escolar se organiza em volta de uma terminada organização social, política e económica que é de interesse manter e/ou desenvolver, verificaremos de que forma a sociedade em rede estende as suas implicações para a organização escolar e os seus actores, especificamente, alunos e professores.
[1] In Cardoso e Outros (2005)
[2] In Cardoso e Outros (2005)

A Escola na Sociedade em Rede

Os computadores são hoje parte natural dos programas educativos, pelo menos no mundo desenvolvido. Apesar de há alguns anos, poder pensar-se que instalando computadores na escola grande parte dos problemas educacionais estariam resolvidos, verificamos hoje que essa ideia não é de todo verdade e que novos problemas e questões pedagógicas se levantam à mesma velocidade com que a sociedade se transforma. Cerca de 50 anos após a primeira utilização dos computadores na educação e 20 anos depois de surgirem os primeiros computadores pessoais; professores, alunos e sociedade em geral questionam-se sobre a utilidade das tecnologias de informação e comunicação na educação (JOHANSSON, P; GÄRDENFORS, P, 2005).

(...)

Temos uma escola que não se adapta às tecnologias, ou tecnologias que não se adaptam ao sistema escolar? São os alunos que já não correspondem às expectativas da sociedade ou são os professores e o sistema educativo que estão desadaptados? São questões para as quais convidaremos à reflexão (...)