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domingo, janeiro 14, 2007

ESR (Tarefa 3)

Algum mal entendido na leitura dos meus posts levou a que se interpretasse a minha primeira participação no forúm como sendo a minha opinião/definição de sociedade em rede. Como consequência disso mesmo, fui confrontada com oito questões feitas pelo professor. Verificando que algumas das questões para reflexão são indissociáveis, optei por juntar algumas.

1) Quem tem recursos para ser a aranha e quem está destinado a ser a mosca?

A resposta pode ser encontrada na própria pergunta… Será a aranha quem tiver recursos, será a mosca quem, por alguma razão, for apanhado desprevenido e não tenha recursos suficientes. Os recursos de que falo, não excluindo os financeiros, são porém mais do que isso. Para além dos recursos financeiros, é preciso deter a informação e o know how.

Não é por acaso que o termo “Sociedade de Informação” se tornou obsoleto e tem sido substituído por “Sociedade do Conhecimento”. Sob esta perspectiva, ter capacidade económica para estar ligado à rede é só por si insuficiente. Há que saber trabalhar com ela e tirar o máximo de proveito dela.

2) Teremos todos as mesmas oportunidades? De que maneira (s) a rede exclui? Será que essa interdependência não esconde desigualdades sociais? E será justo que por uns não quererem, não poderem ou não saberem, fiquem condenados a ser “moscas”?

Efectivamente não temos todos as mesmas oportunidades. Atrevo-me a afirmar que as oportunidades estão nas mãos de uma minoria e relembro que o mundo é mais do que os países desenvolvidos.

É hoje certo e indiscutível que a Globalização não é para todos, e, afectando todos, não afecta todos da mesma maneira. Favorece quem tem mais recursos e a exclusão afecta não só os povos dos países em vias de desenvolvimento mas também os mais pobres dos países desenvolvidos.

Como afirma Castells, para além do papel fundamental que os Estados podem ter na definição das políticas nacionais, vivemos num sistema neoliberal que já ultrapassou há muito o poder dos Estados… Empresas existem que têm muito mais poder que certos estados e na verdade são elas que conduzem a maior parte das políticas económicas com as todas as repercussões psico-sócio-culturais: desemprego, aumento da pobreza, exclusão social, aumento da criminalidade e insegurança cultural (ONU. Relatório de Desenvolvimento Humano. 1999).

Por outras palavras, quem não se adapta às actuais exigências que dizem respeito a uma constante actualização no domínio das novas ferramentas é excluído.

Não se adapta quem não tendo recursos para isso não pode. Não se adapta quem, ainda que tendo recursos, não quer adaptar-se pois olha com enorme desconfiança para esta revolução dos tempos modernos e receia perder poder. Na verdade este tipo de resistência não é novo e sempre existiu em períodos históricos de grande mutação económica com as devidas consequências sociais. Em meados do século XIX, quando começaram a surgir as primeiras máquinas, já a nobreza via com maus olhos as implicações que a industrialização poderia provocar na ordem social existente até então…

3) (Sobre o desabafo da minha actuação como formadora) O esforço é necessário, mas será suficiente? Ter uma professora exigente também é um bom princípio, mas não existirão outras condições?

Tendo em conta que, actualmente, os computadores, os sistemas informáticos e robóticos estão em condições de: I) produzir, informar, educar e de servir à distância de um simples click; II) os computadores são hoje considerados os “melhores amigos” das crianças e jovens, frente aos quais são passadas horas e III) considerando que em Portugal, aos poucos, se substitui o conceito de analfabetismo pelos conceitos de iliteracia e info-exclusão; vale a pena ter em consideração quais as necessidades específicas dos público-alvos com quem vamos trabalhar: professores/educadores/formadores e alunos. Assim, algumas pesquisas que fui desenvolvendo, ajudaram a compreender que:

a) embora existam, desde há alguns anos, planos para Portugal entrar no caminho da Sociedade de Informação, o nosso país está muito aquém do que seria desejável;

b) embora a disciplina de TIC tenha sido introduzida nas escolas do nosso país, os recursos são sub-aproveitados e muitas são as escolas em que os computadores e os centros de recursos multimédia existem, mas não têm qualquer utilização prática, muitas vezes por falta de recursos humanos competentes;

c) apesar de os professores reconhecerem a necessidade de serem formados no uso e aplicação das TIC na sua prática profissional, muitos continuam a resistir à implementação das mesmas, dando muitas vezes como justificação a falta de tempo ou a necessidade de cumprir programa;

Contudo, a utilização das novas tecnologias na educação vai para além da simples transmissão de saberes… implica também o saber-fazer e o saber-fazer-como.

Por outras palavras…não basta estar na rede, é preciso saber como utilizá-la; não basta saber procurar informação, é preciso saber como procurá-la; não basta encontrar informação, é preciso saber como filtrá-la; não basta saber fazer uma página de Internet para que todo o mundo a possa aceder, é preciso definir como vamos organizá-la, com que ferramentas, a que público se destina, que informação queremos passar e como vamos passá-la.

Vale a pena falar do contributo de Papert (1997) para as Ciências da Educação e para o tema que agora se discute... ele foi colaborador de Piaget em investigações subordinadas ao desenvolvimento da criança, publicou vários livros sobre educação infantil e juvenil e trabalha no MIT (Massachusetts Institute of Trecnology).

Papert defende que a criança deve comandar o computador e não ser comandada pela máquina, defende a formação de pais e educadores como uma necessidade e não um simples capricho dos novos tempos e afirma que a tarefa da educação é criar os contextos adequados para que as aprendizagens possam desenvolver-se de modo natural.

Considera ainda que efeito positivo ou negativo das tecnologias é uma questão em aberto que depende da consciência crítica dos seus utilizadores e que o ambiente familiar é fundamental. Segundo Seymour Papert é importante aprender a aprender.

Em alguns aspectos não estou em pleno acordo com Papert, sobretudo no contexto como ele concebe a aprendizagem familiar. É evidente que a aprendizagem familiar é importante mas é preciso que exista fora das famílias algum tipo de estrutura que, pelo menos, ajude as pessoas a transformar e adaptar a posição mental em que colocam as TIC. Na minha opinião, isso só se faz com a difusão de informação de qualidade e com órgãos e meios de comunicação que tenham uma finalidade mais informativa e formativa do que os que temos actualmente e que basicamente têm finalidades meramente comerciais.

4) Será que existirá um “ponto de chegada” ou estaremos condenados a viver num permanente processo de construção/definição?

Não encontrei em Castells, nem em qualquer outro autor que já tenha lido, sequer o vislumbre de resposta a esta difícil pergunta… Mas acredite Professor, que tenho, ao longo dos últimos anos, feito esta questão para mim mesma… O que posso dizer-lhe? Talvez que com certeza existe um ponto de chegada, mas para ser sincera não sou optimista quanto ao sítio em que ele nos vai levar (qualquer caminho serve para chegar?). Neste aspecto concordo plenamente com as últimas palavras de Castells “Este não é, necessariamente, um momento animador, porque enfim sós no nosso mundo humano, teremos de nos olhar ao espelho da realidade histórica. E podemos não gostar daquilo que vemos.”…

Não sou nem cibercrítica nem ciberutópica (Papert.1997), sou sim, ciberpreocupada e uma espectadora atenta, apesar de me esforçar por me adaptar às novas exigências – matriz fundamental para quem não quer ser apelidada de “dinossaura” e correr o risco de também eu ser excluída…

Não acredito que estamos condenados a viver num contínuo processo de construção/definição, mas acredito que a civilização está condenada, sim, a um processo constante de construção/reconstrução… para onde nos leva? Não sei...

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